quarta-feira, 28 de março de 2012

Estou brigada com o passado... (Patrícia Campos)

Conheci o Passado, ainda bem pequena, nos braços de minha mãe. Eu não sabia falar, mal enxergava e muito menos andava, quando conheci aquela figura encantadora e enigmática.

No começo, era só essa figura diferente em minha vida, não me trazia sensações boas e nem ruins, somente estava ali sempre por perto.

O tempo foi passando e fomos ficando, cada dia, mais íntimos, cada dia ele sabia um pouquinho mais de mim e a cada dia ele me intrigava ainda mais. Sabe aquelas coisas que nem seu melhor amigo sabe, pois é, o Passado sabia. Às vezes nem eu mesma queria saber, mas ele sabia.

Algumas outras coisas eu adorava compartilhar com ele, era bom recordar, saborear o gostinho da lembrança da infância, de amigos que se foram e deixaram boas recordações, de um sorvete que escorreu entre os dedos num dia muito quente...

Como é bom ser afinado com o Passado e ao mesmo tempo, que raiva eu tenho dele.

Certa vez, um outro sujeito chamado Presente tentou falar comigo, mas o Passado com muito ciúme, pois ele quer que eu tenha somente ele de amigo, me impediu que conversasse mais com o tal Presente.

Como o Presente é insistente, me enviou um bilhetinho por debaixo da porta.

O bilhetinho me dizia o seguinte: Se você se tornar minha amiga, eu te apresento um grande amigo meu, muito bacana, chamado Futuro. O Futuro torna seus sonhos em realidade, mas para isso, precisa se desapegar um tanto do grudento Passado.

Ah! Como será difícil tal missão. O Passado me cerca por todos os lados, fica me espionando pelas frestas, me impedindo de dar qualquer passo.

Por outro lado, me deu calafrio de pensar em conhecer o tal Futuro. Realizar todos os meus sonhos? Será possível?

Então resolvi sair escondido, disfarçando para o Passado não me ver. Resolvi falar com o Presente, e pedir uns conselhos. O tal Presente me disse que eu não precisava ter pressa de conhecer o Futuro, caso eu não quisesse, mas também não precisava ficar somente com o egoísta do Passado. E passei horas ali, sentada, conversando com o Presente. Sujeito simpático ele, não me cobra nada, não me sufoca como o Passado e não me assusta como o Futuro.

Certo dia eu me deparei novamente com o Passado, e ele começou a me importunar, a me caluniar, a me dizer o que tinha ou não tinha o que fazer. Ficou me dizendo que não devia ser amiga do Presente, que isso e que aquilo. Senti que o Passado apesar de ser um bom amigo e de muitas vezes lembrarmos de coisas boas e de ter vivido grandes aventuras juntos, já não devíamos ser tão mais íntimos assim. O Passado não estava mais querendo tanto a minha felicidade. E enfim, eu disse a ele que amigo é aquele que deseja somente o melhor para o ti, sem cobrar nada.

E deste dia em diante, briguei com o Passado.

Não que eu pense em ficar a vida toda brigada com ele, mas no momento é algo preciso.

Sai magoada da conversa, chorei um bocado, porém decidi caminhar e refletir certos acontecimentos. E resolvi procurar novamente o Presente para me dar bons conselhos. Ainda não quero conhecer o tal Futuro amigo dele, mas não custa nada perguntar algumas coisas sobre o tão intrigante sujeito. Quem sabe ele ainda não pode realizar alguns de meus lindos e singelos sonhos...

E o Presente me disse: Pare de se preocupar. Quanto mais você se preocupa, mas afugenta o Futuro e menos desfruta os momentos bons ao meu lado. Tudo ao seu tempo menina, tudo ao seu tempo.

Olhei para o Presente, sorri e resolvi seguir seus conselhos.

Só rezo para que o Passado fique bem e mais tranqüilo, que ele resolva ser menos egoísta e que ainda seja amiga do Presente e quem sabe até o Futuro.

E enfim, sigo em frente, pensativa e com nova perspectiva de um dia encontrar o Futuro em uma situação agradável.

Escrito em: Quinta, 11 de Agosto de 2011 às 19:25

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